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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O BAMBA

Em 1947, depois de cinco anos no Rio de Janeiro, regressei a Teresina, época em que comecei a aproximar-me de Simplício, jornalista de imensa atividade. Tinha ele o prestigioso apelido de bamba da zona - ou porque não rejeitasse desafio dos adversários políticos, ou porque fosse autoridade na espetacular conquista de quengas dos mais variados tipos, nas zonas respectivas da cidade, especializado na mulataria apetitosa.

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Com a morte de meu pai, em 1963, mais me liguei a Simplício. Tornei-me auxiliar seu na Academia Piauiense de Letras, no Conselho Estadual de Cultura, na Casa Anísio Brito (biblioteca, arquivo e museu do Estado). Conheci-o de perto. O mestre apreciava cousas bem feitas. Desfrutava de muito prestígio pessoal. Melhorou sempre as entidades cuja direção lhe eram confiadas. Culto. Bom amigo, lutador sem medo. Estudioso, em "O Homem, a Sociedade, o Direito", publicado em 1934, pareceu profeta da agonia universal: "Estará, sempre, como lastro, o império das ambições desenvoltas, pelo culto de um individualismo a outrance, originando o poder incontrastável do capitalismo, a exploração do homem pelo homem e o desconhecimento ou o desprezo das mais preponderantes diretrizes da solidariedade social".

De vício, Simplício cultivava somente rabo-de-saia.

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Aos 86 anos de idade, o notável intelectual, esteve em Congresso Nacional de Conselhos de Cultura, no Rio. Na ilustre companhia de Simplício, eu e Fontes Ibiapina. Faleceria a 2 de janeiro de 1971.

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Nunca esquecerei o velho amigo, o saudoso bamba da zona - mestre do Direito, do jornalismo, do trabalho produtivo e do ideal de paz e justiça social - e mestre de amores maravilhosos, como ele confessou e da forma que o mostra a pena inteligente e afetiva de Lili Castelo Branco.


A. Tito Filho, 08/01/1989, Jornal O Dia

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