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domingo, 24 de julho de 2011

PEDRO OUTRA VEZ

Pedro Brito largou o seminário por causa do namoro com uma jovem prendada - Evangelina - e ela seria o mais intenso alimento de sua vida, espiritual, e fixou-se na defeituosa Teresina, no instante em que o patriarcado começava a sua longa caminhada para o desaparecimento e novas idéias surgiam contra o conservadorismo. Principia, então, a atividade jornalística, da qual nunca mais se ausentou. Adere ao romantismo do amor platônico com atrizes de outras terras que se exibiam no Teatro 4 de Setembro, centro da atividade artística da capital piauiense. Casa-se sem emprego em 1906. Vive de mesada paterna. Mas acredita na própria coragem.

Tenta Fortaleza, na preocupação de um curso jurídico. Derrotam-no as dificuldades financeiras. Retorna a Teresina. Ajuda-o Higino Cunha, advogado e intelectual. Aufere os primeiros lucros de trabalho. Realiza a vontade: torna-se advogado sem anel, provisionado.

Pertence agora à cidade moleque, esta inigualável Teresina, que nunca suportou a empáfia, a vaidade balofa, a nobreza insossa, a falsa fidalguia ociosa das reuniões e festinhas rococós. Na colméia humana, hora por hora, o povo repudia o que se empanturram do prestígio da importância familiar. Uma beleza a Teresina da classe média e dos humildes, justamente os que a fazem atraente e querida. Pedro entendeu a cidade e a ela incorporou-se, espancando a politicalha, a ignorância, a incompetência, o compromisso alheio com a roubalheira.


A. Tito Filho, 15/01/1989, Jornal O Dia

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