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quarta-feira, 27 de julho de 2011

OSCAR WILDE

Wilde descobriu a mentira escondida como princípio moral dos homens. Procurou mostrar que a sua sociedade, que a sociedade do dinheiro, praticava todos os vícios e todas misérias e maldades, sob capa de regras morais exteriores. Wilde praticava o homossexualismo às claras, ao contrário de muitos. Defendia a preguiça e glorificava o vício - e praticava este último abertamente, fugindo è regra geral dos que o praticavam às escondidas. Desafiava a sociedade: "Assim (como eu) é que realmente sois vós, ao menos, temos a coragem de viver às claras".

Mostrando na sua própria pessoa a personalidade do homem na vida social, Wilde combateu a sociedade. A sua teoria era: a vida segue a arte, isto é, o artista revela a sociedade, ainda que a sociedade se esconda na hipocrisia. Os tipos criminosos sempre existiram, mas não estavam revelados. Shakespeare mostrou-os, em impecável obra de arte, antes que a vida os conhecesse. A vida segue a arte, isto é, a vida social pratica às escondidas aquilo que o artista revela.

Em O Retrato de Dorian Grey, Wilde revelou-se, revelando o lado noturno da sua existência. Wilde voltou. Está vivo. O seu esteticismo foi a revolta contra uma época - a época, segundo Carpeaux, que ameaçava a existência da arte e do artista. Afirmando a revalorização de Wilde, Carpeaux pergunta como se explica essa revalorização. "Desaparecimento dos preconceitos contra o escritor homossexual denunciador do vício em sociedade? O gosto literário de hoje está distante do gosto literário do tempo de Wilde. Não pode Wilde ser admirado hoje pelos processos estilísticos de que se utilizou. Mas a sua obra apresenta problemas atuais e inelutáveis". Carpeaux acrescenta: "Wilde voltou a ser nosso companheiro na luta pela autonomia espiritual do indivíduo; e, nesse sentido, muitas linhas suas continuam atuais e preciosas".


A. Tito Filho, 05/02/1989, Jornal O Dia

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