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sexta-feira, 22 de julho de 2011

ELEIÇÕES

No calendário já vigora o mês de dezembro, e o brasileiro está distanciado por pequeno espaço de tempo das eleições presidenciais de 17 de dezembro. Dentro em poucos dias, pois, o cidadão escolherá o novo presidente da República. De 1945 a 1989 o povo pôde apenas quatro vezes confiar num mandatário, e o fez elegendo Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros. É insuportável que de vez em quando a história do Brasil recolha a dureza das ditaduras, nascidas das ambições personalistas e que se sustentam de violências e corrupção. Assim se fez de 1930 a 1945, com um pequeno intervalo, e de 1946 a 1989 - governos sem a sacramentação do voto, ilegítimos e que grandes males impuseram à nação. O movimento dito revolucionário, em cujo nome se efetuou a deposição de Washington Luís, foi financiado pelos Estados Unidos, que fez desta terra de Santa Cruz a sua melhor colônia. Liquidou-se a moeda forte, o mil-réis. Mudaram-se os hábitos alimentares da elite, com o cachorro-quente e de modo geral os enlatados, saídos dos trustes norte-americanos estabelecidos no país. Transformou-se o vestuário e ainda hoje os empórios de roupas feitas exploram o brasileiro. A propaganda do cinema endeusava artistas dos Estados Unidos. formou-se a publicidade da mulher nua e o corpo nu da mulher passou a marca de sabonete e outros objetos. Estabeleceu-se a indústria do turismo. Viver bem estava no apartamento, e começou a civilização do arranha-céu e do elevador. Surgiram as megalópoles, que atraiu o pobre diabo do campo para a fome e a miséria nas grandes cidades. A especulação imobiliária enriqueceu milhares. Se morriam as atividades rurais por falta de amparo, surgia o empresariado, classe de novos ricos e de força política.

Os candidatos prometem solucionar problemas rançosos que se arrastam e cada vez mais tornam desesperadores. A inflação, iniciada após, 1930, teve índices insuportáveis a partir da construção de Brasília, quando o endividamento interno assumiu proporções consideráveis e recorreu-se a empréstimos junto a banqueiros internacionais. Desse tempo começa a falência do ensino público, com o abandono das escolas oficiais. O Brasil dos dias de hoje enfrenta males incontáveis, como o êxodo rural, a favelização das cidades, a falta de habitação, a doença, a miséria, os baixíssimos salários, a inchação do funcionalismo, a fome endêmica e epidêmica - males que só podem consertar com o saneamento da moeda, extinguindo-se as dívidas de caráter interno e externo.

É bem de ver que o Brasil está dividido em duas classes: a dos ricos e as dos pobres. Aos primeiros nada falta: luxo, esplendor, dinheiro, exploração do homem pelo homem, através dos raquíticos salários mínimos. As elites desperdiçam. Gastam em recepções e festas magnificantes. Dia por dia o colunismo social registra os exuberantes gastos com vestidos caríssimos, mesas de bebidas e comidas fartas, nas comemorações de natalícios, casamentos, debutações. Cada festança requintada custa milhares ou milhões de cruzados, verdadeira afronta à coorte dos famintos e maltrapilhos de que se deve envergonhar a nação. A vastidão nacional semelha uma banca de jogo de vários tipos, oficialmente organizada. Os banqueiros auferem juros exorbitantes. Não se despreze o arsenal químico dos laboratórios farmacêuticos para a minoração das aflições de uma sociedade rica, mas angustiada, pois o ócio e a futilidade inutilizam espiritualmente as pessoas.

Se os endinheirados desperdiçam fortunas no supérfluo, os pobres mais sofrem em busca de alcançar, por qualquer forma, a falsa felicidade dos outros, e haja prestações, ou a violência contra a propriedade e contra a vida.

Grande, assim, a tarefa do novo presidente: sanear a moeda para o equilíbrio social.


A. Tito Filho, 03/12/1989, Jornal O Dia

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