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domingo, 31 de julho de 2011

"EU SEI ONDE ESTÁ O DINHEIRO"

A Academia Brasileira de Letras conferiu uma de suas poltronas a José Américo de Almeida, o paraibano cuja vida pública tem sido um grito angustiado pela felicidade do Brasil. Está de parabéns a Casa de Machado de Assis, chamando o seu seio um grande escritor.

Esse paraibano baixote, míope desde moço, encheu de compostura a vida nacional. Formou-se em Recife, em 1908, com os piauienses Simplício Mendes e Arimathéa Tito. Parece que chegou a residir com os dois na mesma "república" de estudantes; pelo menos é certo que foi companheiro de quarto de Arimathéa. Formado, José Américo achou fascinante a vida política, e nela ingressou. Ei-lo, em 1930, como um dos chefes civis do movimento revolucionário que derribou Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e entregou o governo da República a Getúlio Vargas, de quem foi ministro da Viação, um grande ministro, voltado para os graves problemas do Nordeste. Enfrentou a terrível seca de 1932. Impôs-se à admiração do país, pelo trabalho, pela sinceridade, pela inatacável honestidade.

O esforço gigantesco como ministro, a linguagem franca de que se utilizava para o debate dos problemas políticos e administrativos, os brados de revolta contra atraso da terra e a penúria do homem, a bravura com que desafiava os maus, a consagração do romancista de "A Bagaceira" - tudo isto lhe valeu imensa popularidade, na Paraíba como no Brasil.

"A Bagaceira" (romance) deu a José Américo uma posição invejável no cenário da literatura brasileira. Consentiu o autor em que o livro "é a tragédia da própria realidade". Livro violento, que agasalhou "almas semibárbaras pela violência dos instintos". O escritor interpreta essas almas sem artificialismo, nuamente, para não suprimir delas a grandeza: "Seria tirar-lhe a própria alma".

O livro semelha um protesto contra "a miséria maior do que morrer de fome no deserto" que "é não ter o que comer na terra de Canaã".

Romance do sofrimento do homem na terra escaldante - "A Bagaceira" também constitui um romance de amor, "concessão lírica ao clima e à raça", como diz José Américo - "problema de moralidade com o preconceito da vingança privada", da forma que ele define as paixões brutais do sertão.


A. Tito Filho, 04/08/1989, Jornal O Dia

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