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sábado, 30 de julho de 2011

CONCRETISMO

Afrânio Coutinho sustenta que a poesia concretista ou concretismo é "um movimento poético inspirado no concretismo pictórico, caracterizado pela redução da expressão a signos concretos, que visam à apresentação direta do objetivo pela organização dos elementos básicos da linguagem em representações gráficas".

Corresponde o concretismo ao experimentalismo formal, no dizer ainda de Afrânio Coutinho. O concretismo revela um esforço de aprofundamento visual do vocábulo, de isolamento dele em relação aos possíveis conteúdos.

O concretismo apareceu em 1956. Naturalmente foi mal recebido pelos gramáticos, uma vez que, quanto à expressão, essa corrente poética desarticula sentenças, frases e palavras.

Como todas as correntes literárias, o concretismo é de reação. Na história do modernismo brasileiro, os críticos distinguem três fases: a primeira, que vai de 1922 a 1930, batiza-se revolucionária, tanto na arte como na política. Seu objetivo está na demolição de uma ordem social fictícia, desligada da realidade brasileira - a demolição de uma arte e de uma literatura artificiais.

A segunda fase, de 1930 a 1945, substitui o caráter destruidor pela intenção construtiva - fase preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo.

A terceira, iniciada em 1945, corresponde a um esforço de recuperação disciplinar, contenção emocional e severidade de linguagem.

Penso que o concretismo, que apareceu em 1956, reagiu contra esta última corrente.

Creio que o concretismo, reduzindo a expressão a sinais concretos, defende a preferência pela forma em detrimento do conteúdo - e nisto o concretismo buscou inspiração no simbolismo.

Parece que, como na pintura expressionista de Picasso, Gogh. Matisse, o princípio do concretismo está a insurreição expressional, pois o artista nada expressa, mas os próprios elementos se expressam a si mesmos.

A poesia concreta tende para o abstrato - daí interessar ao concretista a interrogação pessoal, feita pelo seu espírito, da realidade exterior. A inteligibilidade não se torna a característica do concretismo, pois é difícil ao leitor penetrar no mundo do poeta, nem sempre acessível à representação verbal. E por isto o concretismo mostra um esforço de aprofundamento visual do vocábulo.

Assinala Péricles Eugênio da Silva Ramos que Augusto de Campos, na revista Noigrandes, nº 3, tem um conjunto de ovos, e que o ovo foi uma das formas adotadas por Símias de Rodes.

Ao concretismo concede-se o que o Puttenham concedia aos pattern poems: "convinient solaces and recreations of man's wit".


A. Tito Filho, 04/03/1989, Jornal O Dia

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