Quer ler este texto em PDF?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OS LIVROS DE MATIAS

Teresina inaugurou biblioteca pública ainda no tempo do regime imperial. Como tudo que presta, nesta terra, esse beneficio coletivo logo se sumia talvez por falta de leitores, numa época em que era pouco o interesse por cousas de literatura. No tempo da sua melhor atividade, Anísio Brito organizou a biblioteca estadual, instalada justamente com o arquivo e o museu no prédio cujo nome homenageia esse admirável historiador e homem público. Dava gosto que a gente estudasse nas salas das estantes cheias de livros bem catalogados. Muito li nesse ambiente convidativo. Com o correr dos anos, os livros se transportaram para outro local, o antigo Grupo Abdias Neves, onde funcionaram o Liceu Piauiense e a extinta Faculdade de Direito do Piauí, e nele se instalou a Biblioteca Cronwell de Carvalho, mantida pelo governo estadual.

Desconheço os rumos que tomaram as obras pertencentes a Simplício Mendes, a Esmaragdo de Freitas, a Higino Cunha, a Martins Napoleão e muitas outras nobres figuras da vida cultural desta terra. Salvei as obras jurídicas e literárias de meu pai. Parece-me que me evaporou a rica biblioteca da antiga Escola Normal, especializada em assuntos educacionais.

Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves manteve comigo, desde os idos de 1974 até perto de morrer, correspondência de grande mérito. Em 1983, manifestou-me a vontade de doar os seus livros técnicos à Universidade Federal do Piauí e os livros de ciências sociais e literatura a Academia Piauiense de Letras. Fiquei satisfeito com a atitude do grande confrade. Faleceu em 1984. Só uns dois anos depois os livros chegaram. Estragados pela umidade. Sujos. Encontravam-se sob cruel desprezo em dependência de apartamento no Rio. Uma tristeza. Ainda assim aproveitei pelo menos um terço dos exemplares.

Os livros de Odilon Nunes, preciosos, doados à casa de Odilon Nunes de Amarante causam dó, segundo me contou o insigne mestre.

Recentemente distinta jornalista me deu a notícia desoladora: os livros de Matias Olímpio, ex-governador, ex-senador do Piauí, jazem num recanto da Biblioteca Cronwell Carvalho, sem cuidado, sob caloroso desprezo.

Assim, não. A Academia os recebe, encaderna-os e lhe dá agasalho condigno. Caso queiram.


A. Tito Filho, 18/03/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário