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sexta-feira, 15 de julho de 2011

CABELOS - II

Por que os moços deixaram crescer os cabelos?

Seria o caso de perguntar também: por que praticam os jovens crimes graves? Por que usam roupas berrantes? Por que dançam tomados de frenesi, música quente, movimentada, estonteante, provocante?

É que a mocidade está abandonada pelos pais, tomada de angústia,a  angústia dos filhos injustamente apelidados de transviados, "quando eles só se transviam como uma reação contra a negligência, o amoralismo, o egoísmo dos pais, estes sim, realmente transviados".

Que fazem as mães nos dias que correm? Entregam-se às atividades sociais, moram nos salões de beleza, passam as noites nos clubes de diversão ou nas salas elegantes de jogatina, sustentadas por tranqüilizantes.

Que deseja essa mocidade, frustrada, com os cabelos grandes, os trajes espalhafatosos, a bebida, a dança movimentada, o desenfreio? Protestar contra a sociedade que abandonou, a principiar do abandono dos pais desafetuosos.

Leia-se a grande lição de um dos mais notáveis psiquiatras brasileiros: "Esses jovens procuram um meio de se fazerem personagens, com o objetivo de atrair sobre si a atenção dos pais e utilizam-se de toda sorte de estratagemas, dos mais simples e complexos aos mais condenáveis, da simples boemia vagabunda, como ao exemplo do pai que freqüenta bordéis, até as formas mais graves de transviamento moral, como reação contra a mãe que passeia de biquíni diante dos seus colegas de curso, ou se esquece de certas precauções à hora dos seus colóquios telefônicos adulterinos" (Cláudio Araújo Lima - Imperialismo e Angústia).

Traje, cabelos grandes, música delirante - tudo simboliza protesto da mocidade contra o abandono em que a colocaram, abandono que gera a angústia dominadora da juventude.

Justifica-se o processo de rebeldia dos cabeludos. Esse cabelos grandes, que dão cocó, tem uma causa. Muito bem. Mas são ridículos por dois motivos: oferecem uma idéia de pederastia e uma demonstração de falta de higiene. Convocam atenção para o ridículo. A música popular já insinuou que os cabeludos sugerem o desagradável:

"Olha a cabeleira do Zezé,
Será que ele é? Será que ele é?

Demais isto, essas cabeleiras compridas criam uma expressão de esquisitice, de piolheira, de coisa comichona, sarnenta.

A mocidade pode ter razão de deixar crescer a cabeloça para atrair atenções. Mas a moda é feia e antipática. E já contagiou maduros e velhos, na ânsia da imitação. Maduros e velhos querem ser moços, pelo menos nos cabelos compridos.


A. Tito Filho, 02/12/1989, Jornal O Dia

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