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segunda-feira, 25 de julho de 2011

A CUSTÓDIA

Clementino Moura, expressão intelectual festejada, escreveu sobre a Custódia de Oeiras:

"Durante o tempo em que estudei em Teresina, fazendo o meu curso ginasial, no Liceu Piauiense, passava as férias de fim do ano em Oeiras, minha terra natal, com os parentes.

Por ocasião de uma dessas férias, em dezembro de 1925, transitou pela antiga capital um destacamento da Coluna Prestes, comandado pelo Tenente Siqueira Campos, um dos heróis do Forte de Copacabana. Na Coluna, ele tinha o posto de Tte. Cel. Com a aproximação da Coluna e ante as declarações do Governo de que a mesma saqueava por onde passava, o pároco de Oeiras, Padre Silva, escondeu-se, fora da cidade, levando a valiosa Custódia da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória, padroeira da cidade. A bonita Custódia pesa sete quilos de ouro contém vinte brilhantes do tamanho de um grão de milho, obra da mais fina ourivesaria portuguesa. Foi doada por um devoto à Irmandade do santíssimo Sacramento.

Pelo seu valor e pela sua beleza, sabe-se que já foi roubada, 2 vezes, sendo, felizmente, encontrada. A primeira foi no século passado, ao tempo em que governava a Província o Visconde da Parnaíba, Manoel de Sousa Martins, tendo sido encontrada a 10 léguas da cidade, perto da fazenda Boqueirão, por um vaqueiro, dentro de um saco, ao lado de um homem que agonizava, de disenteria. De outra feita, conta-se que o ladrão, ao descer uma pequena elevação nas proximidades do rio Canindé, perto da cidade, caíu do cavalo, fraturando o osso da coxa, sem possibilidade de locomover-se. Em ambos os casos, o fato foi considerado pelos habitantes, na sua maioria, católicos, como milagre.

Chegando a Coluna Prestes a Oeiras, o Tenente Siqueira Campos manifestou o desejo de ver a Custódia, cuja fama já era do seu conhecimento. Houve um alvoroço muito grande na cidade, em face da ameaça do mesmo, homem temperamental que era, de arrombar a igreja quando soube do da fuga do Padre Silva. Localizado este, negou-se peremptoriamente, a mostrar a Custódia. Houve intervenção do Prefeito e do juiz de Direito que convenceram, afinal, o Padre a trazê-la de volta à cidade. A igreja foi aberta, a Custódia recolocada no seu lugar, no altar-mór e mostrada aos oficiais e soldados, pacificamente. Era subcomandante da Coluna no posto de Major, o Tenente Ari Salgado Freire. Muito católico, rezou e de um óbulo para a igreja. Ao manifestar-lhe, nos meus 16 anos, simpatia pelo idealismo dos revolucionários, ofertou-me um retrato de todo o Estado-Maior da Coluna Prestes, retrato que conservo no meu arquivo, como recordação desses jovens tenentes que tanto lutaram pela Pátria, percorrendo o país de sul a norte, em busca de melhores dias para o nosso Brasil.

Nos dias atuais, marcados pela onda de assaltos, ninguém sabe onde é guardada a preciosa obra de arte que é a Custódia de Oeiras. Só se sabe é que está em lugar muito seguro".


A. Tito Filho, 03/07/1989, Jornal O Dia

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