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sexta-feira, 29 de julho de 2011

AS FAZENDAS

O grande engenheiro piauiense Antônio José de Sampaio tornou-se arrendatário das Fazendas Nacionais do Piauí. Partiu para a Europa com a intenção de desenvolver a indústria pastoril no Estado. Adquiriu mecanismo moderno. Realizaria o sonho da fábrica de manteiga, queijo e de gelo. Haveria instalação de funilaria, serraria e aparelhos de uma estação meteorológica. Contratou técnicos para montar a aparelhagem e conduzí-la. Realizou ainda conversações para trazer ao Piauí quarenta famílias italianas.

"Vieram-lhe as surpresas" - salientou Luís Mendes Ribeiro Gonçalves, seu correto biógrafo. "O transporte do material redundou em perigosa corrida de obstáculos a consumir energias, produzir canseiras, motivar retardamentos e provocar dispêndios imprevistos. A peleja teve de ser áspera e ininterrupta, desde o desembarque no porto de Floriano, onde não havia, sequer, um aparelho de suspensão, até a montagem. Foi preciso abrir estradas, construir pontes e pontilhões, desbastar rochas, escavar, movimentar e consolidar terrenos. Por fim, os edifícios se levantam, a água é captada e distribuída, as instalações se executam. As máquinas são postas em funcionamento, quebrando a monotonia daquelas paragens onde, antes, só o vento açoitava as folhas. A chaminé a atirar para o alto o seu penacho de fumaça, o vapor da caldeira a fazer vibrar o apito estridente a horas certas, a labuta dos currais, a atividade dos técnicos e auxiliares nas oficinas eram sinais de uma vida diferente que nascia rumorosa e promissora".

Chegaram as primeiras famílias italianas, que foram algo localizadas. "Mas - diz Luís Mendes Ribeiro Gonçalves - antes de se dedicarem ao trabalho efetivo, começam os reveses. Alguns dos colonos adoecem depois de comerem, desavisados, frutos silvestres venenosos, outros são acometidos de doenças tropicais, ainda outros, amedrontados, não se adaptam ao clima. Surgem reclamações e conseqüente cortejo de dificuldades. Há intervenções diplomáticas, repatriação de emigrantes com pesadas despesas imprevistas. O lamentável desastre iria servir de descrédito a outras tentativas".

Antônio José de Sampaio continua, porém, a lutar, mas contra ele se colocam os políticos, que se utilizam de pressões financeiras, como muito bem sustenta o seu dedicado biógrafo, acima citado, que acrescenta: "Atordoado, após trabalho dedicado e hercúleo, é obrigado a concordar com a encampação do contrato, transferido, sem demora, a políticos cobiçosos. E, desde então, tudo foi aos poucos se perdendo. Da opulência das antigas Fazendas Nacionais mostra-se hoje, no cenário vazio apenas o que construiu Sampaio e ficou, como ruína, exposto aos desgaste do tempo".

Pobre e desalentado Piauí.


A. Tito Filho, 03/10/1989, Jornal O Dia

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