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segunda-feira, 27 de junho de 2011

COMÉRCIO

No romance "Um manicaca", Abdias Neves faz referência ao comércio de Teresina nos últimos tempos do século XIX: "Aqui e ali estavam lojas abertas e caixeiros derreados nos balcões, sem fazer nada, à espera do toque libertador das nove horas. Poderiam, então, ir tomar parte, também, nas festas. Não nas do culto - que terminavam, a essa hora, com a retirada da música da Polícia mas nas festas profanas dos botequins, onde a graça das prostitutas em moda cintilava até ao amanhecer, na desenvoltura e nos entusiasmos de uma embriaguez sem fim".

Essas lojas de antigamente se abriam às sete da manhã e se fechavam às nove da noite.

Quando, de Barras (PI), viemos morar na capital, o horário se havia modificado. E em 1933, abril, o decreto nº 22, do prefeito Luís Pires Chaves, adotou o seguinte regime para o funcionamento das casas comerciais: zona Norte, das 8 às 12 e das 14 às 18; zona Sul, das 7 às 11 e das 13 às 17.

Era 1932. Chegamos a Teresina em companhia do saudoso pai, que vinha assumir o juizado de direito. Moramos na rua Lisandro Nogueira (antiga Glória), bem perto do mercado central. Passamos, ainda nesse ano, a residir na rua São José (Félix Pacheco), próximo, muito próximo da praça Saraiva. Defronte, mantinha sortida mercearia o português José Gonçalves Gomes, cidadão conceituado e que muito honrou a atividade comercial. Dessa época distante ainda nos lembramos da /casa Carvalho; de Deoclécio Brito, o primeiro concessionário da Ford e das máquinas de escrever Remington; de Monoel Castelo Branco e Anfrísio Lobão, que se tornaram donos da Agência Ford; de Afrodísio Tomás de Oliveira (Dôta), de João de Castro Lima (Juca Feitosa), cuja loja vendia artigos diversos, inclusive livros de autores portugueses e brasileiros; de Lili Lopes, à frente da Botica do Povo; de Manuel Madeira, português, vendedor de bolos e pastéis (praça Rio Branco), talvez o pioneiro de lancheiras em Teresina - e de vários bares e botequins como o frequentadíssimo Bar Carvalho, de José Carvalho, o Zecão, homem de bem, de muitos amigos, que oferecia, no estabelecimento, bilhares, café, sorvete, chocolate e convidativo restaurante sob o comando do espanhol Gumercindo, introdutor de filé de grelha, feito na chapa do fogão, na culinária teresinense. Alcançamos o famoso Café Avenida, feito de madeira, na praça Rio Branco. Construiu-se outro, em 1937, de dois andares, amplo, ao lado do Hotel Piauí (Luxor) freqüentado de homens ilustres. Foi derribado. No local hoje se estacionam veículos.

Os comerciantes ou donos eram cidadãos de respeito, educados, desprovidos da feia e baixa ganância de muitos outros da atualidade. Sim, muitos donos de comércio hoje parecem cédulas, são famélicos pelo vil metal.


A. Tito Filho, 01/10/1989, Jornal O Dia

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